segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VERDADE ENTRE CUECAS

ANTES DE COMEÇAR...

A porta do quarto se abre, ele entra, tira a toalha que estava presa na cintura, ainda nú, liga o computador para acessar a internet. Enquanto o computador inicializa e vai até o guarda-roupas e veste uma cueca, um bermudão e uma camisa de time de futebol. Passa a mão pelos cabelos mal enxugados e senta diante do pc. Entra na net, no Orkut, na Comunidade Contos Eróticos (Gay), procura um conto. Clica nele. Nesse momento ele sente sua cadeira sacudir sozinha. Ele se segura nos braços da cadeira e sente a sensação de que está diminuindo de tamanho, ou a cadeira está afundando no chão. Ele não está errado, a cadeira está descendo por um buraco. O computador vai passando diante dos seus olhos. Vira a cabeça e olha seu quarto pela última vez na altura do chão e em seguida é sugado para dentro daquele buraco negro. Sua cadeira está presa a algo. Ele não ousa se mover. Dos lados só a escuridão, o vácuo. Olha para cima e o quadrado luminoso é a última lembrança do seu quarto. A cadeira desce até se fixar numa espécie de trilho. De repente ele ouve um 'pss' de ar comprimido e a cadeira é arremessada para frente como se fosse um carrinho de montanha russa. Passeia pela escuridão até ver luzes vindo do alto. São outros quadrados luminosos. Outros quartos. Do seu lado, outros leitores passam presos em cadeiras sobre trilhos, alguns em camas, outros com cadeiras de lan house. Todos presos no emaranhado, todos juntos, na escuridão sem se ver, sem se conhecer, o desconhecido é perturbador e prazeroso. A cadeira passeia por trilhos desconhecidos e vozes conhecidas são ouvidas: 'EU SOU CUECA, PORRA!', alguém canta 'MAMMA MIA, HERE I GO AGAIN...', uma garota diz 'UMA BORBOLETA RECONHECE A OUTRA PELO BATER DAS ASAS', todos cantam 'MORENO ALTO, BONITO E SENSUAL...'. A cadeira vai mais rápido, virando e rodando e ao fundo ouve-se 'TIME GOES BY SO SLOWLY'.

CONT...

A cadeira percorre seu caminho até que no fim se junta a todas as outras em um enorme círculo e diante dos olhos de cada um aparece escrito como se estivessem lendo em uma tela de computador:

BOA NOITE CAMBADA! AGORA É A NOSSA VEZ! 

INTRODUÇÃO

“Tudo cai....
No meio da escuridão, flashes pipocavam trazendo um pouco de luz às trevas. O negrume cedeu lugar a um pouco de luminosidade. E a partir daí dava para distinguir um pouco do que podia ser visto. Nuvens cinza. Definitivamente eu estava caindo...
Eu estava em queda livre. Meu mundo estava caindo, minhas crenças, meus valores, minha máscara...Eu estava caindo.
Quando ultrapassei a última camada de nuvem translúcida um novo cenário se descortinou a minha frente. O céu rugiu atrás de mim como se estivesse se despedaçando. Talvez o próprio céu estivesse prestes a cair. O solo se aproximava vertiginosamente rápido. Era como se eu tivesse um alvo a acertar. Eu não estava errado. Comecei a girar e a cair mais e mais rápido. Um dia tudo cai...
Cristo caiu três vezes. O Império Romano caiu em 476. Nova Iorque caiu em 1929. Hitler caiu. O muro de Berlim também caiu em 1989. Eu vivia com a nítida sensação de que o próximo seria eu.
Eu já tinha um alvo. Era uma pessoa. Ela vinha rapidamente em minha direção. Era como se eu estivesse parado e o chão é que estivesse vindo ao meu encontro e não o contrário. Meu alvo era um ser de asas. Um anjo...
O anjo abriu os braços e ergueu a cabeça ainda com os olhos fechados. Talvez ele tivesse pressentido que eu estava me aproximando. Ele abriu os olhos e eu o acertei em cheio no rosto. Tudo ficou branco. Tudo estava chegando ao final.
Tudo cai...”

CONT...

Eu caminhava olhando para o chão. Evitando olhares. Não queria ver ninguém e de preferência não queria que ninguém me visse. Pé direito, pé esquerdo. Vários pés. Caminhei olhando para o chão até chegar a um balcão. Havia um banco. Sentei no banco. Eu estava usando um all star azul velho e sujo, meias brancas, calça jeans justa, cinto com tachas de metal, uma camisa branca de gola pontuda. Uma jaqueta de couro preta por cima. Cabelo espetado. Três brincos de argola na orelha esquerda, um na direita. Barba feita, lábios carnudos, nariz fino e levemente empinado, olhos castanhos escuros, sobrancelhas grossas. Um metro e setenta de altura, moreno, brasileiro, solteiro.
Prazer, para quem não me conhece, meu nome é Fábio Linderoff.